Desde que comecei a correr,
em 2011, sempre achei que só iria me considerar uma corredora no dia que fosse
capaz de correr os 21 km de uma Meia Maratona.
Domingo, 7 de julho de
2013, corri a Meia Maratona Caixa da cidade do Rio de Janeiro. Quando cruzei a
linha de chegada meu coração batia tão forte quanto as minhas passadas, cada
gota de suor revelava um pouco do meu esforço para correr 21 km em 2h18minutos.
Naquele momento eu me coroava uma corredora. Recebi a minha medalha e fugi da
multidão de corredores e do público que se aglomerava no Aterro do Flamengo.
Minha medalha nas areias de Copacabana
Lentamente fui
caminhando em direção as pedras que separam as águas do mar do Pão de Açúcar. O
dia ensolarado e o céu azul sem nenhuma nuvem moldavam a cidade maravilhosa. Olhando
para o Pão de Açúcar, levantei os olhos para o alto e silenciosamente agradeci
a Deus por mais uma conquista na minha vida. Carregava no peito a minha medalha
de participação na corrida, no rosto um sorriso largo e na alma a imensa
satisfação de ter vencido eu mesma.
No dia da corrida levantei
às 4h30 da manhã. Tinha dormido pouco na noite anterior porque a ansiedade e o
medo de não acordar tiraram o meu sono. Estava hospedada num hotel em
Copacabana junto com um grupo de 12 corredores de São Paulo. Saímos do hotel às
5h30 numa van que havia sido alugada para nos levar até a largada da corrida na
Barra da Tijuca. Ainda era noite e o dia só amanheceu quando estávamos passando
pelo Leblon. Chegamos ao local da
largada, Av.Pepê 500 Barra da Tijuca, alguns minutos antes da largada que foi
às 6h40. A temperatura era 19C, inverno carioca.
A Maratona Caixa da Cidade do Rio de Janeiro contava com 20.000
participantes sendo: 5.000 maratonista
42 km, 10.000 corredores da Meia Maratona 21 km e 5.000 pessoas inscritas para
correr 6 km no Aterro do Flamengo, local da chegada de todas as provas.
Assim que a corrida
começou me concentrei para manter o meu ritmo, sem forçar, porque nunca tinha
corrido 21 km. Logo após a largada corremos por um viaduto que no final tinha um
túnel. Dentro do túnel havia balões iluminados, muita música e os organizadores
da prova incentivando os corredores. Agradecíamos aplaudindo, gritando e saudando
uns aos outros.
As ruas estreitas após
a saída do túnel obrigavam os atletas a correrem muito próximo uns dos outros.
Era difícil ultrapassar os corredores mais lentos, não me importei, aproveitei
para apreciar a vista. Seguia no meu ritmo até que avistei a única grande
subida de todo o percurso, os 1.200
metros da Av.Niemeyer que serpenteiam o Morro Dois Irmãos de São Conrado. Como
eu tinha largado quase no final, podia ver o colorido de milhares de camisetas
que tomavam conta da avenida até o topo do Morro. Uma imagem linda, de um lado
um paredão de pedra e do outro a imensidão do mar azul. Eu tinha a sensação de
estar correndo num cartão postal tamanha era beleza do morro, do céu e do mar.
São Conrado - Av.Niemeyer
Na subida consegui
ultrapassar vários corredores porque mantive o mesmo ritmo que estava correndo
no plano. Nesse momento me lembrei do meu professor e treinador William Arruda
que sempre que eu reclamava dos
exercícios pesados de musculação, me dizia que era necessário desenvolver a potência
e a força muscular para vencer as
subidas. Na descida do morro diminuí
a minha velocidade para não forçar os joelhos e poder apreciar um pouco a
vegetação, as árvores que quase invadiam a pista transformando-a numa trilha. No final da descida encontrei a Cláudia Shaefer, uma paulistana que corre empurrando
a cadeira de rodas adaptada da filha Bia que é deficiente. Incentivei a Cláudia
e segurei na mão da Bia por alguns metros e segui correndo.
Leblon
Estava chegando à
praia do Leblon, o sol esquentava e o mar parecia cada vez mais perto dos
corredores. Havia muitas pessoas na praia que nos saudavam e uma turista
oriental gritava: “ Very good! Very good”! Sorrindo falei “ Thank you” para ela e continuei no meu ritmo.
Leblon
No Leblon vi a placa
que indicava que já tínhamos corrido 10 km, eu estava muito bem, correndo com
alegria e não sentia nenhum cansaço. Então pensei que a corrida iria começar
naquele momento. Estou acostumada a correr 10 km, mas jamais tinha corrido 21 km.
Talvez por estar muito concentrada tentando decidir qual seria a minha
estratégia de corrida dali para frente, a praia do Leblon logo ficou para trás
e cheguei a Ipanema.
Ipanema
Desde criança sempre que
ouço ou vejo a palavra Ipanema penso em Tom Jobin e Vinícius de Moraes, na Bossa Nova e na música “Garota
de Ipanema”, a segunda música mais tocada e conhecida do planeta, superada apenas por "Yesterday" dos Beatles. Correndo
a Meia Maratona do Rio de Janeiro havia milhares de mulheres, todas tentando
vencer seus próprios limites. Na Praia de Ipanema, com certeza, éramos todas “Garotas de Ipanema”, e se tivéssemos fôlego
para correr e cantar, provavelmente nossas vozes se uniriam num coro que teria cantado “ olha que coisa
mais linda, mais cheia de graça é correr em Ipanema, porque tudo é tão lindo…”
Ipanema e Arpoador
E foi assim,
cantarolando nos meus pensamentos, que cheguei em Copacabana. Tentando manter o
mesmo ritmo da largada da corrida, meus olhos procuravam o final da praia que parecia
distante demais para ser visto. A princesinha do mar se agigantava na minha
frente assim como o número de pessoas nas areias de Copa que aplaudiam os
corredores. Na pista havia um chuveiro em forma de arco que refrescava todos
que por ali passavam e também uma grande mesa com tangerina e banana. Peguei
dois gomos de tangerina da mão de uma moça sorridente sem parar de correr.
Copacabana
De vez em quanto eu
olhava para as ondas do calçadão de Copacabana, para as palmeiras, para a areia
branca e para o mar muito distante da pista. A extensão da Praia de Copacabana é de 4,15 km e rapidamente também foi ficando para trás.
Em Copacabana uma homenagem a Carlos Drummond de Andrade
No início da Praia do
Leme uma placa indicava 17 km percorridos e em seguida o percurso continuava
pela Av.Princesa Isabel em direção a praia do Botafogo.
Morro do Leme
No primeiro quarteirão da Av.Princesa Isabel ouvi alguém gritando: “Vai Audy, força!”. Era a
minha amiga sul-africana, Alba Botha, me incentivando nos quilômetros finais.
Agradeci a torcida internacional e continuei correndo, sempre com o mesmo ritmo. Faltava pouco para chegar, eu me sentia muito bem, poderia correr mais
rápido, porém, preferi não testar o meu limite físico. Talvez não quisesse
terminar aquela corrida tão linda e me distraia olhando para o Pão de Açúcar que parecia cada vez mais perto de mim.
Botafogo
Quando cheguei ao
Aterro do Flamengo, olhei para os belíssimos Jardins de Burle Marx enquanto ouvia a música alta e o locutor saudando os
corredores que cruzavam a linha de chegada. A minha primeira Meia Maratona estava
acabando, eram os metros finais e eu ia vivendo a alegria de cada passada, de
cada batimento cardíaco cada vez mais acelerado e da enorme emoção que é
realizar um sonho.
Aterro do Flamengo
Não senti nenhuma dor
durante a corrida nem cansaço no final da prova. Acho que estava feliz demais
para sentir qualquer coisa que não fosse alegria.
Logo após cruzar a linha de chegada
Agora que me considero
uma corredora, já posso pensar em outros desafios, outras Meias Maratonas
mundo afora.