Como quase todos os dias, acordei cedo, por volta das 5h15
da manhã para ir correr no Parque Ibirapuera. Hoje queria correr 10 km na pista
de Cooper que é de cascalho e requer um pouco mais de esforço.
O Ibirapuera fica muito próximo da minha casa e normalmente
vou andando até o Parque, assim já vou fazendo o meu aquecimento. Hoje resolvi
ir de carro porque queria doar roupas e calçados que não uso há algum tempo e,
portanto, não faz sentido manter dentro do meu guarda-roupa. Costumo ajudar
algumas instituições de caridade, mas prefiro doar nas ruas para pessoas que estão
à mercê da sociedade e muitas vezes de um mínimo de dignidade. Sempre gostei de
dar comida e roupas embora alguns critiquem veementemente essa atitude. Nunca dou
dinheiro para os pedintes, apenas comida, doces, brinquedinhos, roupas e
calçados. As reações de quem recebe as doações é sempre de gratidão, um sorriso
inesperado, uma conversa rápida e muitas vezes uma troca de carinho no olhar.
Após o meu treino eu estava voltando para casa pela Avenida
República do Líbano e em um dos semáforos notei que havia uma pessoa pedindo
ajuda. Era o “Bola” que é deficiente físico, não tem as pernas e se equilibra
em cima de uma prancha de skate para se movimentar. Perguntei se ele aceitaria
doações de roupas e calçados femininos, pois talvez pudesse ser útil para alguém
da família dele. “Bola” agradeceu com um
sorriso largo e disse para eu entregar as doações num posto da gasolina logo em
frente que eles guardariam para ele. Ainda sorrindo me pediu desculpas por não ter
condições de pegar as sacolas, pediu a Deus que me abençoasse e me jogou um beijo.
Parei no posto de gasolina e entreguei as sacolas para um
frentista. O rapaz do posto me contou que o “Bola” nasceu deficiente, mora na
periferia e sempre pede ajuda naquele farol. Eu já estava de partida quando o frentista falou
para eu esperar só um minutinho. Ele saiu correndo e logo voltou com uma rosa
vermelha, sem espinhos, e me entregou sorrindo.
A minha conversa com o “Bola” deve ter durado menos de um
minuto e devo ter falado talvez uns dois
ou três minutos com o frentista. O tempo foi curto, mas a intensidade dos gestos
foi imensa, afinal, gentileza sempre gera gentileza.