No dia 20 de setembro de 2014, voei de São Paulo para Porto
Alegre, e da capital gaúcha peguei um ônibus com destino a Farroupilha. Havia
visitado a cidade uma única vez quando era criança e na época viajava com os
meus pais.
Nos arredores de Farroupilha vivem meus primos e suas
famílias que cultivam uma grande plantação de laranjas. Sempre que eu falava ao telefone com o meu primo Clemente, costumava dizer que um dia iria conhecê-lo, porém, teria que ser no período da colheita das laranjas para eu poder ajudar. Ele falava que estava me esperando, mas eu percebia
que ele se esforçava para acreditar na minha promessa, talvez porque lhe
parecesse um pouco improvável eu viajar de São Paulo para o Rio Grande do Sul especialmente
para conhecer meus parentes paternos e também colher laranjas.
Enfim, o que o Clemente não sabia era o quanto eu sou apaixonada pela natureza e que não descarto uma viagem por nada desse mundo.
Foi a primeira vez que viajei para conhecer alguns dos meus familiares. Confesso que foi uma experiência incrível conhecer os meus primos e suas
famílias. Fui recebida de forma extremamente carinhosa e tão bem acolhida
que passei cinco dias lá com a minha "nova família".
Meu primo Clemente
Rosa, esposa do Clemente
Bruno e Décio, filhos do Clemente e da Rosa
No dia seguinte a minha chegada fui conhecer a plantação de
laranjas. Eram milhares de laranjeiras que se espalhavam por fileiras
intermináveis. Eram mais de 10.000 pés de laranjas e alguns tinham mais de 200
laranjas em uma única laranjeira. Havia laranjas gigantes que pesavam entre 600 e 800 gramas.
Algumas laranjeiras estavam tão carregadas que os galhos não suportavam o peso de tantas frutas e tocavam o chão.
Eu estava fascinava com as pessoas queridas que tinha acabado de
conhecer e também aguardava ansiosa o início da colheita.
Meus primos Ivonete e Carlinhos
Bernardo, filho da Ivonete e do Carlinhos
Gabi e Décio
Raquel, esposa do Vinícios, que aparece no alto do caminhão.
A primeira carga que foi vendida totalizava 670 caixas de
laranjas. O processo de pesagem é bastante simples e é feito da seguinte
maneira: o caminhão é pesado primeiramente com as caixas vazias e depois
novamente com as caixas cheias de laranjas.
As caixas vazias foram entregues, no final da manhã da terça-feira-feira
23 setembro, e logo após o almoço começamos a colheita. A Rosa, esposa do Clemente, me emprestou
roupas confortáveis, botas e um par de luvas que são usadas para a colheita de
laranjas.
Eu não tinha a menor ideia de como seria feita a colheita manual de mais de 200 toneladas de laranjas, mas logo percebi que era bem mais fácil do que eu poderia imaginar.
Ao chegar na plantação
a tarde estava ensolarada, com temperatura amena e um ventinho suave balançava
o vale com suas tantas laranjeiras.
Os meus primos me ensinaram como colher as laranjas e também
me alertaram que eu devia descartar, caso encontrasse alguma laranja com a
casca grossa ou pequena, o que era muito raro. Eu não tinha a menor ideia de como seria feita a colheita manual de mais de 200 toneladas de laranjas, mas logo percebi que era bem mais fácil do que eu poderia imaginar.
Naquela tarde havia 7 pessoas trabalhando, incluindo eu com
a minha falta de habilidade para a colheita e ainda uma aprendiz. Trabalhamos três horas e meia e foram colhidas cerca
de 300 caixas de laranjas. Todos colhiam juntos as laranjas de um mesmo pé, e em
menos de cinco minutos eram apanhadas todas as laranjas. Um trabalho em equipe
sincronizado e prazeroso.
Conversávamos sobre assuntos diversos durante a
colheita e, de vez em quando, silenciávamos para ouvir o canto dos pássaros.
Nos galhos de muitas laranjeiras havia flores que exalavam
um perfume delicado. Aquele aroma cítrico me envolvia de tal forma que eu deixava
de colher as laranjas por alguns instantes e ficava olhando para o vale com
suas montanhas ao longe. O pensamento passeava por entre as laranjeiras e me
deixava levar pela alegria que sentia por estar ali.
Ao longo da minha carreira profissional já atuei em projetos
sofisticados e complexos em diversas áreas. Enquanto eu colhia as laranjas
vieram á baila muitas das funções que desempenhei, principalmente, no mundo
diplomático. Pensei que se tivesse que listar,
por ordem de importância, minhas experiências profissionais, é muito provável
que a colheita de laranjas encabeçasse a lista.
Eu adorava ir para a roça com os meus primos sentada numa carroceria que traçava um ziguezague por uma estradinha estreita.
Trabalhamos duas tardes e parte de uma manhã, para ser mais
precisa, foram 10 horas de trabalho para colher 670 caixas de laranjas que
pesaram 14.970 quilos.
Todas as caixas cheias de laranjas foram armazenadas em um galpão antes de serem carregadas no caminhão.
O caminhão partiu levando as laranjas e o acompanhei com olhar. Naquele momento eu tinha a satisfação de ter contribuído com a colheita de muitas laranjas que estavam sendo transportadas. Sabia que a minha participação tinha sido singela, mas ainda assim não conseguia esconder o orgulho do dever cumprido. Era o início da tarde de quinta-feira, 25 de setembro, no final do dia os meus pais iriam chegar em Farroupilha para seguirmos viagem juntos.
Meus pais e o Clemente
Eu estava muito feliz por ter conhecido os meus primos e seu estilo de vida, por ter participado da colheita de laranjas, mas era hora de ir embora. Quando me despedi de todos o coração estava apertado e os olhos marejados... eu queria ficar...
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