No dia 25 de novembro de 2017 passei a manhã trabalhando
como voluntária no Instituto do Coração que pertence ao Hospital das Clínicas em São Paulo.
O prédio é gigantesco, são 535 leitos distribuídos em sete alas de internação,
60 consultórios médicos. O InCor realiza em média, por ano, 5 mil cirurgias,
260 mil consultas médicas, 2 milhões de exames de análises clínicas, 330 mil
exames de diagnóstico de alta complexidade e é referência mundial no tratamento
de doenças cardíacas. Foi o primeiro hospital na América Latina a fazer um
transplante de coração.
Visitei a ala do SUS do sétimo andar do hospital, que tem
cerca de 100 leitos e abriga pessoas que aguardam por um transplante de coração
e outras transplantadas.
À espera de um coração
pode ser longa, muito longa.... no entanto, presenciei um momento que jamais
vou me esquecer. Tinha acabado de entrar em quarto no qual havia
duas mulheres. Carmenlisa é mineira, está internada há 7 meses, seu coração já
bate com dificuldades... ao lado dela um médico jovem
segurava sua mão, havia uma comoção no ar e ela chorava e sorria.
Eu não entendia o que estava acontecendo...
Em seguida entraram mais 4 médicos e algumas
enfermeiras, todos se abraçando, sorrindo, comemorando e alguns chorando...
tinham acabado de receber os resultados de alguns exames e o coração de um
doador era compatível com Carmenlisa. A longa espera havia chegado ao fim... na
cama muitas fotos do filho de 1 ano e 8 meses que ela não vê há 7 meses. Entre
sorrisos e soluços ela perguntava para os médicos se seria capaz de segurar no colo
o filho outra vez, se ia dar tudo certo com o transplante... A alegria da Carmenlisa contagiava assim como a incerteza que a fazia
chorar.
Por alguns instantes pensei na família do doador, que, em meio a sua
dor, talvez nunca saberão exatamente a dimensão do seu gesto de amor... o
coração de alguém que partiu e agora continuará batendo e dando a chance de
Carmenlise voltar a abraçar o seu filhinho. O bebê está em Minas Gerais, numa
cidadezinha que fica a quase 20 horas de viagem de São Paulo...
Na cama ao lado, Beatriz, 23 anos, tentava esboçar
um sorriso. Fui conversar com ela. Emocionada com a notícia que a colega de
quarto tinha acabado de receber, me contou que tem um filho de 6 e outro de 3
anos, é de Araraquara, interior de São Paulo, e há um mês está internada
aguardando por um doador. Nunca recebe visitas porque seus familiares estão
distantes e não podem arcar com os custos da viagem.
Ouvi muitas pessoas que acabaram de passar por um transplante e outras
tantas que aguardam por uma doação de um coração... foi uma manhã de muito
aprendizado...
Fui convidada para ser voluntária pela Dona Loydes, uma senhora que tem
95 anos e mora no mesmo condomínio que eu. Ela é voluntária há anos no
Instituto do Coração. A minha atuação foi ajudá-la a visitar os pacientes e
convidá-los para participarem de uma oração na capela. Para algumas pessoas foi
uma alegria enorme sair da cama e ir para outro andar mesmo que numa cadeira de
rodas.
Uma senhora ficou tão feliz que me pediu um
abraço... e é no abraço que os corações se encontram...
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