quarta-feira, 30 de março de 2011

Yungang Grottoes

 
Há 16 km do centro antigo de Datong fica Yungang Grottoes, as famosas cavernas que foram escavadas na rocha há mais de 1400 anos. Apesar de já ser início da primavera, ainda faz muito frio nesta região. Antes de se chegar as cavernas é preciso atravessar uma ponte, e, pela primeira vez vi um rio congelado.  Nos meses de dezembro e janeiro faz 20C negativos em Datong. Estamos no final de março e o rio ainda não descongelou.  O frio é tão intenso que as árvores são protegidas com cobertores ou cordas para sobreviverem ao inverno.  Pode-se ouvir música Budista por todo o caminho até as cavernas, no chão há pequenas caixas de som que se integram com a paisagem. O dia estava ensolarado, mas, o frio era tanto que durante muito tempo andei sem sentir os meus pés. Além do rio eu também estava quase congelada.
Não é permitido fotografar a parte interna de todas as cavernas que são ricamente esculpidas. No total são 252 cavernas sendo que 45 são grandes com esculturas gigantes com muitos detalhes. Estas cavernas são consideradas uma das principais representações do Budismo na China, totalizando 51.000 esculturas numa extensão de 1 km. Os templos que haviam sido construídos foram destruídos durante as guerras. A construção das cavernas demorou cerca de 100 anos. No lado externo há mais de 1.000 esculturas com a imagem do Buda.   

As estacas protegem do vento e o cobertor do frio
Cordas para proteger o tronco do frio

Ns bancos do carro do Jiang lã de carneiro para aquecer

terça-feira, 29 de março de 2011

Restaurante em Datong

Li Rutian, Audy, Jiang Hepng
Quando retornamos da visita ao Templo Suspenso, eu, a Li Rutian, minha guia, e o Jiang, o nosso motorista,  fomos almoçar em um tradicional restaurante chinês da cidade. Segundo a Li Rutian, os turistas nunca são levados a este restaurante porque é um lugar no qual vão somente as famílias chinesas, ninguém fala inglês e eles não têm interesse em dividir esta "privacidade" com os visitantes.  
A Li Rutian fazendo o pedido
Este tipo de restaurante é chamado de “Hot Pot Food”.O primeiro passo para se fazer o pedido é selecionar os molhos, verduras, legumes e carnes que estão especificados em uma longa lista em chinês.
Para cada lugar na mesa existe uma espécie de chapa na qual a comida será cozida. Esta chapa é coberta por uma toalha feita de um tecido especial que não queima com o calor.   A garçonete nos trouxe uma panela com uma espécie de caldo fervendo e começou a colocar vários condimentos. Pedi para colocar só tomate, salsinha e sal na minha panela. Agradeci a oferta de uma variedade enorme de pimentas e tantos outros temperos que meu estômago não digere com facilidade.
Em seguida é trazido tudo o que foi escolhido anteriormente para ser mergulhado no caldo quente da panela. Cada um decide o tempo do cozimento da sua comida. É uma delícia! Não me lembro de ter comido antes alface cozida! Tinha também umas "iguarias'' feitas com o sangue de boi e de cabra que eu provei. O gosto é bem agradável. O mais difícil é pegar aqueles pedacinhos escorregadios de dentro da panela com os palitinhos.  






domingo, 27 de março de 2011

O Templo Suspenso (The Hanging Temple)

O Templo Suspenso
Chegar até a montanha de Heng Shan, uma das mais altas da China e considerada sagrada pelo taoísmo, já é uma grande aventura. Os 70 km de viagem de Datong até o Templo são por uma estrada sinuosa com muitos desfiladeiros e caminhões carregados de pedras que não respeitam nenhuma regra de trânsito. Uma nova rodovia está sendo construída e em breve o acesso ao templo será mais fácil.
A Cachoeira congelada
A região de montanhas rochosas é extremamente fria e embora já seja início da primavera o riacho e uma cachoeira perto do templo ainda estão totalmente congelados. A imagem é linda, mas o frio corta os ossos. Eu tinha colocado toda a minha roupa de inverno que trouxe e ainda assim não foi suficiente. Meus pés congelaram e durante muito tempo eu não sentia quase nada do joelho para baixo. Minha maior dificuldade para fotografar era  não agüentar ficar mais do que 5 minutos sem as luvas. O dia estava ensolarado, um céu azul belíssimo e a temperatura por volta de uns 5 ou 6C abaixo de zero.   
Estrutura do Templo
Estava indo para a passarela


O Templo foi construído no ano de 491 e sobreviveu quase 1500 antes de ser restaurado. Uma obra prima da arquitetura que até hoje intriga engenheiros e arquitetos do mundo todo sobre como o templo foi construído há mais de 50 metros do chão encravado no penhasco.
Detalhe do Telhado
Andar pelo Templo Suspenso não requer apenas coragem, mas também muita habilidade para subir e descer escadas extremamente estreitas e íngremes. As portas das salas são baixas e os corredores que as interligam são de frente para o precipício, só passa uma pessoa de cada vez, lentamente. Eu não tenho medo de altura e estava tão feliz de estar ali que olhei para baixo várias vezes, mas confesso que é um pouco assustador andar por aquelas passarelas do Templo Suspenso. Tem que ter muito cuidado porque parte do chão é de pedra e bastante escorregadia. Nas passarelas o chão é de madeira e ás vezes range quando a gente anda. Não é fácil visitar o Hanging Temple.
Nas 40 salas do Templo, todas muito pequenas, há mais de 30 estátuas de cobre, ferro, terracota e pedra. Muitas delas foram danificadas durante a Revolução Cultural. Nas paredes e no teto há pinturas de pássaros e detalhes da natureza. O templo é famoso não apenas por sua arquitetura, mas por abrigar no mesmo templo imagens do Taoísmo, Budismo e Confucionismo o que é muito raro.
Em um momento enquanto eu me equilibrava para subir mais uma escadinha aterrorizante, naquela altura toda, falei: “ Jesus Cristo!”  E a minha guia retrucou: “ Nada disso, aqui você tem que pedir proteção para o Buda”. Independente da crença de cada um, é preciso pedir proteção aos Deuses para se andar pelo Templo.
Posso dizer que a beleza e a espiritualidade do lugar, venceram o medo e o frio, e andei mais de três horas pelo Templo suspenso naquele enorme penhasco.  
Esculturas dentro do Templo
A esquerda o Templo Suspenso visto à distância

sábado, 26 de março de 2011

Pequim - Datong de trem

Cabine do trem - Pequim - Datong
Para visitar o Hanging Temple é preciso ir até Datong que fica há 300 km de Pequim e de lá são mais 70 km de carro.
Tomei um trem diurno.Gosto de apreciar a paisagem durante a viagem que neste caso seria de 6 horas. Comprei um assento na primeira classe porque é comum as pessoas fumarem nos trens que vão para o interior da China. Nas cabines, como são apenas 4 passageiros, e ao invés de bancos são camas, não é permitido fumar e há um conforto maior.Logo que me acomodei na cabine chegou uma senhora que muito contente começou a conversar comigo em chinês naturalmente. Era Inútil eu falar para ela que não estava entendendo nada, vale lembrar que essa “enorme“ frase eu falei em Mandarim com uma pronúncia digna uma vez que é frase não muito difícil para se dizer.
Para melhorar a situação chegou um rapaz que também se empolgou com a conversa na qual só eles falavam e eu me restringia a rir e repetir em Mandarim: “ Sou brasileira, não falo chinês”. Bem, de repente o rapaz teve uma idéia brilhante: pegou o computador dele, desses de última geração que parece um livro e não sei como se chama, e começou a escrever em chinês tudo o que a senhora ditava para ele. Percebi que ele tinha colocado o texto num programa de tradução que passou para o inglês e aí me deu para ler. Digitei tudo o que eles queriam saber e fiz outras perguntas em inglês para eles e devolvi o computador. Eles passaram para o chinês e liam juntos se deliciando com as descobertas sobre mim como uma criança quando ganha um brinquedo novo.  
A nossa conversa com a ajuda da tecnologia se seguiu pela viagem inteira. O Hao Guofeng é engenheiro e estava viajando a serviço e a senhora é uma médica chinesa que dá conferência no mundo todo. Ela já esteve em São Paulo e me mostrou no seu celular fotos das suas conferencias na Europa e no Brasil. Posso dizer que não foi uma viagem muito comum, afinal, nunca tinha me comunicado com alguém desta forma. Ah, teve um momento que o Hao Guofeng quis inovar e começou a escrever em chinês e traduzir para o português. Era tudo muito estranho e não fazia muito sentido. Isso me fez pensar na confusão que deve ter sido o que tentávamos contar um para o outro.
As pessoas que passavam pelo corredor ás vezes paravam para ver o que se passava na nossa cabine e a oficial do trem nos visitava com freqüência.
O que mais me impressiona é o quanto as pessoas se mostram solícitas quando se está viajando sozinha. Tem sempre alguém querendo ajudar. O Hao Guofeng até comprou uma garrafa de água para mim e depois de algumas horas de viagem comprou uma “caixinha” e me deu. Eu não tinha a menor idéia do que se tratava até abrir e descobrir que era um sorvete. Fazia frio e tomar um sorvete não era nem de longe o que eu queria naquele momento. Mas como recusar tamanha gentileza? Ele me contou que aquele tipo de sorvete em caixinha o pai dele dava para ele quando era criança como uma recompensa por ter feito algo de bom. Eu disse que neste caso então eu é quem deveria comprar o sorvete para ele...  como a conversa era via tradução do computador ele não entendeu o trocadilho.
Pela janela do trem eu via uma
vista espetacular. Fotografar com um trem em movimento  através de uma janela bem suja e com reflexo do sol não é muito fácil.

A seguir algumas fotos que fiz nestas condições e gostei do resultado.



sexta-feira, 25 de março de 2011

A Grande Muralha da China

É comum as pessoas me perguntarem qual o lugar mais lindo do mundo que já visitei. Para mim não há um único lugar, há diversos tipos de beleza que nos é maior ou menor de acordo como o nosso conhecimento de mundo e interesses. Na minha lista dos lugares mais incríveis que já estive, sem dúvida, entre os primeiros está a Grande Muralha da China. 
 Em 2010 quando estive aqui em Pequim visitei Mutianyu que é uma parte da Muralha que imita o movimento do rabo de um dragão e tem muitas torres. Fiquei tão fascinada que fiz duas vezes o passeio. Mutianyu fica há mais de duas horas de carro de Pequim e por isso não recebe tantos turistas quanto Badalin que está localizada no subúrbio de Pequim . Estive lá no verão e como fazia muito calor houve vários momentos que eu era a única pessoa andando pela Muralha. Nesta viagem decidi visitar Jinshanling que fica há quase 200 km de Pequim e trata-se de uma área um pouco isolada, sem muita infra-estrutura para o turismo e não muito visitada. Foi preciso alugar um carro com motorista para me levar até lá.
Conforme combinado, pontualmente as 8:00 hs da manhã do dia 23 de março de 2011, chegou no meu hotel um homem sorridente, muito magro e baixo que se chamava Tan Xi e iria me levar para Jinshanling. O carro chinês tinha tapetes vermelhos e os assentos encapados com tecido branco. Esta versão do “requinte” chinês eu ainda não conhecia. O Tan falava muito pouco inglês e sempre que tentava me explicar ou contar alguma coisa acabava falando em chinês e a conversa acabava por aí mesmo com nós dois sorrindo com a nossa incapacidade de comunicação.Durante mais de uma hora viajamos por uma rodovia com quatro pistas, asfalto perfeito, uma reta só e muito movimentada. Os veículos eram de passeio, caminhões ou aqueles carrinhos com três rodas que a gente acha que vai tombar a qualquer momento. Todos fazendo as ultrapassagens mais absurdas que se possa imaginar e, por incrível que pareça, não vi nenhum acidente. Não sei quais são os requisitos para se tirar carta de motorista aqui, porém, pouca gente conhece as regras básicas de trânsito com não ultrapassar pela direita. Para não ficar muito tensa resolvi não olhar mais para á frente, melhor assim, olhar só para os lados.


A Chinesa que me acompanhou na murulha
 Quando chegamos a Jinshaling não havia ninguém nem para vender o ingresso para visitar a Muralha. O Tan falou alguma coisa e uma moça veio até a bilheteria me atender. O teleférico estava fechado e eu teria que andar até o  alto da Muralha sozinha uma vez que o meu motorista ia ficar me esperando no carro e não consegui convencê-lo a ir comigo. Assim que passei pela catraca aberta especialmente para mim, uma das cinco mulheres que estavam sentadas  ali com sacolas cheias de “souvenir” e quinquilhas chinesas se aproximou de mim e já começou a oferecer os seus produtos. Eu disse que não queria nada, mas ela não se importou e começou a caminhar ao meu lado tentando se comunicar com o pouco inglês misturado com chinês que ela conseguia falar. Andamos quase meia hora e ela já não me incomodava, pois tinha parado de querer me vender qualquer coisa e se esforçava para contar a história da Muralha. Percebi que um casal estava subindo pela trilha com um guia e um pouco mais atrás havia um estrangeiro andando sozinho como eu, ou melhor, também acompanhado de uma chinesa e sua bolsa cheia de produtos.

Assim que cheguei no alto da Muralha comecei a andar lentamente para desfrutar cada segundo daquele lugar tão mágico. Era um dia ensolarado, céu azul, muito frio, uma vista tão espetacular que não se consegue andar muito sem parar, admirar, agradecer a Deus pela oportunidade de poder andar novamente na Grande Muralha da China.
A chinesa  Xin Li, a cada escada que tínhamos que descer ela segurava a minha mão, queria me ajudar de qualquer maneira. Não era mais uma vendedora insistente, passou a ser uma pessoa prestativa que decidiu cuidar de mim como se eu fosse uma criança pequena e pudesse cair a qualquer momento. Aos poucos comecei a me sentir péssima por ter tentado dispensá-la logo no início da caminhada. Eu andava um pouco e parava para fotografar de todos os ângulos possível aquele lugar tão lindo. Não queria perder ou deixar escapar da minha memória nenhum detalhe daquelas montanhas secas, sem nenhuma vegetação porque  ainda é inverno na China. O serpentear da Muralha no topo das montanhas as vezes confunde e parece um circulo e não  uma linha reta.
Vista de dentro de uma torre
Aos poucos outros turistas passaram por mim e alguns pararam para conversar. Dentre eles havia um casal de americanos simpáticos  que caminhamos juntos por um tempo, alguns alemães que usavam pouca roupa apesar do frio de 5C e uma inglesa que pediu para eu tirar uma foto dela. Ela era jornalista do Sunday Times de Londres e ia escrever uma matéria sobre a Muralha.
Andei mais de 7 km pela Muralha e só não continuei porque o frio era maior que o meu cansaço. Em nenhum momento a Xian Li me abandonou, pelo contrário, se preocupava tanto com a minha segurança e de uma maneira tão generosa que quando voltamos para o local onde o meu motorista estava me aguardando comprei dela um livro, uma camiseta e dei uma excelente gorjeta. Ela ficou tão feliz que me deu um abraço, coisa que chinês não faz nunca.
O Tan, que viu a cena toda, bastante surpreso me perguntou se poderíamos voltar para Pequim. Eu disse que não, que teríamos que almoçar no único restaurante aberto antes de seguir viagem.  É claro que ele recusou o meu convite, mas eu insisti tanto que ele se rendeu e foi almoçar comigo morrendo de vergonha. Eu tinha passado 4 horas andando pela Muralha e ele iria dirigir todo o caminho de volta naquele trânsito caótico. Precisávamos estar bem alimentados.