É comum as pessoas me perguntarem qual o lugar mais lindo do mundo que já visitei. Para mim não há um único lugar, há diversos tipos de beleza que nos é maior ou menor de acordo como o nosso conhecimento de mundo e interesses. Na minha lista dos lugares mais incríveis que já estive, sem dúvida, entre os primeiros está a Grande Muralha da China.
Em 2010 quando estive aqui em Pequim visitei Mutianyu que é uma parte da Muralha que imita o movimento do rabo de um dragão e tem muitas torres. Fiquei tão fascinada que fiz duas vezes o passeio. Mutianyu fica há mais de duas horas de carro de Pequim e por isso não recebe tantos turistas quanto Badalin que está localizada no subúrbio de Pequim . Estive lá no verão e como fazia muito calor houve vários momentos que eu era a única pessoa andando pela Muralha. Nesta viagem decidi visitar Jinshanling que fica há quase 200 km de Pequim e trata-se de uma área um pouco isolada, sem muita infra-estrutura para o turismo e não muito visitada. Foi preciso alugar um carro com motorista para me levar até lá.
Conforme combinado, pontualmente as 8:00 hs da manhã do dia 23 de março de 2011, chegou no meu hotel um homem sorridente, muito magro e baixo que se chamava Tan Xi e iria me levar para Jinshanling. O carro chinês tinha tapetes vermelhos e os assentos encapados com tecido branco. Esta versão do “requinte” chinês eu ainda não conhecia. O Tan falava muito pouco inglês e sempre que tentava me explicar ou contar alguma coisa acabava falando em chinês e a conversa acabava por aí mesmo com nós dois sorrindo com a nossa incapacidade de comunicação.Durante mais de uma hora viajamos por uma rodovia com quatro pistas, asfalto perfeito, uma reta só e muito movimentada. Os veículos eram de passeio, caminhões ou aqueles carrinhos com três rodas que a gente acha que vai tombar a qualquer momento. Todos fazendo as ultrapassagens mais absurdas que se possa imaginar e, por incrível que pareça, não vi nenhum acidente. Não sei quais são os requisitos para se tirar carta de motorista aqui, porém, pouca gente conhece as regras básicas de trânsito com não ultrapassar pela direita. Para não ficar muito tensa resolvi não olhar mais para á frente, melhor assim, olhar só para os lados.
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A Chinesa que me acompanhou na murulha |
Quando chegamos a Jinshaling não havia ninguém nem para vender o ingresso para visitar a Muralha. O Tan falou alguma coisa e uma moça veio até a bilheteria me atender. O teleférico estava fechado e eu teria que andar até o alto da Muralha sozinha uma vez que o meu motorista ia ficar me esperando no carro e não consegui convencê-lo a ir comigo. Assim que passei pela catraca aberta especialmente para mim, uma das cinco mulheres que estavam sentadas ali com sacolas cheias de “souvenir” e quinquilhas chinesas se aproximou de mim e já começou a oferecer os seus produtos. Eu disse que não queria nada, mas ela não se importou e começou a caminhar ao meu lado tentando se comunicar com o pouco inglês misturado com chinês que ela conseguia falar. Andamos quase meia hora e ela já não me incomodava, pois tinha parado de querer me vender qualquer coisa e se esforçava para contar a história da Muralha. Percebi que um casal estava subindo pela trilha com um guia e um pouco mais atrás havia um estrangeiro andando sozinho como eu, ou melhor, também acompanhado de uma chinesa e sua bolsa cheia de produtos.
Assim que cheguei no alto da Muralha comecei a andar lentamente para desfrutar cada segundo daquele lugar tão mágico. Era um dia ensolarado, céu azul, muito frio, uma vista tão espetacular que não se consegue andar muito sem parar, admirar, agradecer a Deus pela oportunidade de poder andar novamente na Grande Muralha da China.
A chinesa Xin Li, a cada escada que tínhamos que descer ela segurava a minha mão, queria me ajudar de qualquer maneira. Não era mais uma vendedora insistente, passou a ser uma pessoa prestativa que decidiu cuidar de mim como se eu fosse uma criança pequena e pudesse cair a qualquer momento. Aos poucos comecei a me sentir péssima por ter tentado dispensá-la logo no início da caminhada. Eu andava um pouco e parava para fotografar de todos os ângulos possível aquele lugar tão lindo. Não queria perder ou deixar escapar da minha memória nenhum detalhe daquelas montanhas secas, sem nenhuma vegetação porque ainda é inverno na China. O serpentear da Muralha no topo das montanhas as vezes confunde e parece um circulo e não uma linha reta.
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Vista de dentro de uma torre |
Aos poucos outros turistas passaram por mim e alguns pararam para conversar. Dentre eles havia um casal de americanos simpáticos que caminhamos juntos por um tempo, alguns alemães que usavam pouca roupa apesar do frio de 5C e uma inglesa que pediu para eu tirar uma foto dela. Ela era jornalista do Sunday Times de Londres e ia escrever uma matéria sobre a Muralha.Andei mais de 7 km pela Muralha e só não continuei porque o frio era maior que o meu cansaço. Em nenhum momento a Xian Li me abandonou, pelo contrário, se preocupava tanto com a minha segurança e de uma maneira tão generosa que quando voltamos para o local onde o meu motorista estava me aguardando comprei dela um livro, uma camiseta e dei uma excelente gorjeta. Ela ficou tão feliz que me deu um abraço, coisa que chinês não faz nunca.
O Tan, que viu a cena toda, bastante surpreso me perguntou se poderíamos voltar para Pequim. Eu disse que não, que teríamos que almoçar no único restaurante aberto antes de seguir viagem. É claro que ele recusou o meu convite, mas eu insisti tanto que ele se rendeu e foi almoçar comigo morrendo de vergonha. Eu tinha passado 4 horas andando pela Muralha e ele iria dirigir todo o caminho de volta naquele trânsito caótico. Precisávamos estar bem alimentados.