Quando retornei da minha viagem ao Oriente em 2010, entrei em contato com várias revistas de Turismo para ver se eles tinham interesse em publicar algumas fotos e fatos sobre minha viagem para a China. Queria escrever sobre o ritual do chá e as inúmeras lojas em Xangai e Pequim que só vendem chá, sobre curiosidades de um país com uma cultura tão distinta da nossa. Mas ninguém se interessou. Ouvi todo os tipos de "não" disponíveis no mercado.
Depois de duas semanas do meu primeiro contato com a redação de uma revista de Viagem , uma jornalista mandou um email perguntando se eu gostaria de escrever um depoimento sobre as minhas experiências de viagem. Pediu para eu relatar como é viajar só, falar sobre lugares que já visitei e quais as vantagens e desvantagens de uma mulher viajar sozinha. Fiz o relato abaixo, respondendo as inúmeras questões levantadas pela repórter e encaminhei para a revista.
Na ocasião, acredito que tenha havido uma mudança na pauta e foi publicado um artigo muito pequeno cujo título era: “Quem é o seu companheiro de Aventuras?” A matéria se referia brevemente ao percentual de pessoas que viajam em família, com a sua cara-metade, com amigos ou sozinhas.
A minha nobre participação na matéria da Revista se resumiu ao seguinte:
Me, myself and I 11%
“ Já viajei sozinha à China e à Europa. Mas nunca me senti solitária. Sempre encontrei locais e outros viajantes que ajudaram a tornar incrível a minha viagem”.
Audmara Veronese – São Paulo, SP.
Existe uma expectativa imensa quando se vai a Banca comprar uma Revista na qual haverá um texto seu ou parte dele publicado. Assim que vi a Revista exposta, peguei a mesma com as duas mãos, e ,como que por impulso, comecei a folhear a procura da matéria antes mesmo de pagar. Quando finalmente encontrei o artigo e vi o meu texto resumido a três linhas curtinhas no canto da página á direita, lá embaixo quase caindo da folha da revista para o precipício do esquecimento, comecei a rir.
Na verdade não estava achando graça daquilo tudo. Era um riso nervoso, um riso consciente de que o texto era grande demais para qualquer revista, mas que também não merecia ter sido bravamente esquartejado. Enfim... c’est La vie!
Como é maravilhoso ter um BLOG e a liberdade de escrever textos contando histórias e não contando linhas para que se encaixe no espaço que a Revista reservou.
A seguir, o meu texto, NA ÍNTEGRA, que na época me deliciei escrevendo.
Por que viajar só?
Sempre gostei muito de viajar porque viajar é conhecer, é descobrir! Já visitei 21 países e conheço quase todos os estados brasileiros. A maioria destas viagens fiz sozinha, não porque tenha necessariamente decidido ir só, mas porque as pessoas que conheço não estavam disponíveis para viajar no mesmo período que eu. Assim, fui desenvolvendo naturalmente o gosto de viajar sozinha, de ser uma viajante e não uma turista.
Sem dúvida a maior vantagem destas viagens é poder ser dona do meu tempo, mudar itinerários, fazer somente o que me agrada e poder ficar em determinados lugares por um tempo maior sem a preocupação de “ter que visitar” algum ponto em especifico. Como viajante nunca me senti sozinha, pelo contrário, sempre tive a oportunidade de encontrar e conversar com pessoas locais ou outros viajantes que provavelmente não teria tido a mesma chance caso estivesse viajando acompanhada. Viajar sozinha significa estar mais tempo comigo mesma, descobrir não apenas lugares mas também como reagir diante de situações totalmente adversas ou inesperadas, como se adaptar ao novo em um curto espaço de tempo.
Passei o mês de junho de 2010 viajando sozinha pela China e vivi experiências únicas que talvez só o Oriente possa proporcionar. Quando estava me preparando para ir para a China, muitas pessoas me perguntavam se eu não tinha medo de ir só para o outro lado do mundo, literalmente. Eu não via nenhum perigo aparente, talvez porque sempre acreditei que o medo é um péssimo conselheiro, ele nos priva de fazer coisas grandiosas. Sempre parto do princípio que a viagem será um sucesso e caso eu venha a ter algum problema aí sim vou me preocupar em como resolvê-lo. Não gosto de viver problemas imaginários!
Antes de viajar procuro sempre estudar o país ou o estado que vou visitar para saber um pouco sobre a cultura local antes mesmo de chegar ao destino. Costumo enviar um email para os meus amigos perguntando se alguém já esteve naquele lugar ou conhece alguém que mora na cidade ou no país em questão. Normalmente recebo muitas informações e aí começo a entrar em contato com os amigos dos amigos e a sabatiná-los. Assim quando chego ao meu destino já tenho alguém “conhecido”. Tanto no exterior quanto no Brasil as pessoas são extremamente receptivas e prestativas com quem está viajando sozinho, principalmente se for mulher. Seria difícil listar aqui as inúmeras vezes que fui “adotada” por um local durante as minhas viagens, pessoas que fizeram um esforço enorme para me ajudar e para fazer com que eu levasse comigo a melhor imagem possível da cidade ou do país delas. Pessoas que eu havia acabado de conhecer me convidaram para inaugurações de museus, festas, para me sentar com eles na mesa de um restaurante, me ofereceram carona e tantas outras gentilezas. Não importa se a viagem foi para a Europa, para a Ásia ou para a Amazônia, sempre pude contar com o apoio de desconhecidos que muitas vezes se tornaram grandes amigos.
Na China diariamente era ajudada por locais para resolver questões simples como comprar o passe do metro (na maquina só havia informações em chinês) ou num restaurante que algumas pessoas falavam só um pouco de inglês, mas todas vieram até a minha mesa e se esforçaram para entender as minhas necessidades. Nem acreditei que com aquela conversa rudimentar que tivemos depois de alguns minutos o garçom trouxe um prato especialmente preparado para mim, sem tantos condimentos ou ingredientes típicos de lá que meu estomago já se recusava a digerir.
Considerando que o meu Mandarim é quase inexistente, aprendi a importância do gesto para se comunicar, nem sempre dava certo, então eu desenhava num pedaço de papel o que queira e as interpretações dos meus desenhos eram hilárias. Preciso melhorar o meu traço urgente!
Então, são estas situações que tornam a viagem tão interessante, não gosto de ser levada aos lugares, prefiro ir caminhando e descobrindo. Adoro me perder nas cidades porque sempre me deparo com alguma coisa que nunca tinha sequer pensado que existia ou que eu visitaria.
Um dia eu estava perambulando por Xangai numa região distante do centro financeiro e da parte chique da cidade. Era um lugar que os turistas não chegam, só os viajantes... Entrei em uma lojinha de conveniência do bairro para comprar um sorvete, pois fazia muito calor. Ninguém falava inglês lá e percebi que estavam bastante surpresos com a minha presença. Enfim, como sorvete é quase a mesma coisa em qualquer lugar do mundo, escolhi um em cuja embalagem, toda escrita em chinês, eu via que a metade era marrom escuro e a outra metade era verde. Logo pensei: deve ser chocolate com pistache, afinal os chineses consomem muito pistache, é tão comum para eles quanto o amendoim para nós. Saí da lojinha com o meu sorvete e procurei uma mureta na rua para me sentar, saborear o mesmo enquanto observava o intenso transito de bicicletas, triciclos, carros e pessoas. Bem, na primeira lambida percebi que aquilo não era chocolate de jeito nenhum mas sim feijão doce, igual aquele usado nos recheios dos docinhos japoneses. Comecei a rir de mim mesma, como somos pré-conceituosos! Só porque a cor do sorvete lembrava chocolate não significa que deveria obrigatoriamente ser de chocolate, não é? Continuei me deliciando com o meu sorvete, sem tocar na parte verde pois fiquei tentando adivinhar o que poderia ser caso não fosse pistache. Não importa quantas suposições eu tenha feito o que eu jamais iria imaginar era que a parte “verde” do meu sorvete de feijão doce era ervilha. Isso mesmo! Ervilha! Como é maravilhoso poder se surpreender!
Naquele momento senti vontade de contar o ocorrido para alguém, mas como estava sozinha tive que esperar até retornar ao hotel e falar com um amigo pela Internet. Aliás, está foi a primeira viagem que levei o meu computador comigo o que tornou tudo muito mais simples. Gosto de viajar bem leve. Para passar um mês na China a minha bagagem na ida pesava apenas 14Kg, voltei com o dobro da bagagem física e outras tantas de experiências acumuladas. Não uso relógio, só me preocupo com as horas para não perder um trem, o avião ou o início de um espetáculo, fora isso procuro ficar longe dos horários marcados.
A maior desvantagem de se viajar sozinha é o alto custo da viagem. Sempre me hospedo em hotéis simples ou pousadas. A tarifa de um quarto de solteiro é quase a mesma de um duplo.
Outra dificuldade é que, dependendo do lugar, não é possível fazer certos passeios sozinha, por questão de segurança ou por ser necessário alguma licença especial. As agências somente oferecem estes passeios para grupos. Normalmente quem esta viajando sozinho se vê forçado a arcar com todas estas despesas ou desistir do passeio.
Pedir para alguém me fotografar é outro pequeno inconveniente, nem sempre há pessoas que conseguem manusear a minha máquina, que é pesada e requer alguns ajustes, sem tremer a ponto do estabilizador não conseguir corrigir a foto... Á vezes a pessoa percebe a minha imensa “insatisfação” e pede se quero que ela refaça a foto, o que não significa que o resultado será melhor do que o anterior. Vou começar a levar comigo uma “maquininha doméstica” dessas que qualquer um consegue apertar o botão e tirar uma boa foto...
Acho que todo mundo deveria fazer, pelo menos uma vez na vida, uma viagem sozinho. Se você decidir que fará só a sua próxima viagem, lembre-se: é preciso deixar em casa os “pré-conceitos” e embarcar sem medo neste mundo de possibilidades e descobertas que está a nossa espera em qualquer lugar! Bon Voyage!
Adorei o seu texto! Estou morando na australia e antes de retornar ao Brasil vou fazer uma viagem pela asia, incluindo a china. Provavelmente vou ir sozinha pois meus amigos nao podem viajar nas datas em que irei. Ja viajei sozinha antes e gostei. Ter compania é bom mas poder ficar so c vc mesmo, indo onde e quando vc quer, tbm é muito bom. Parabens pelo blog!
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluirTenho certeza que a sua viagem sozinha pela China será maravilhosa e uma experiência incrível. Os chineses adoram os estrangeiros e são muito simpáticos.
Viajar só nos permite outras possibilidades em todos os sentidos, acho que aprendemos mais porque o foco nos lugares é maior.
Boa sorte para você e aproveito para lhe desejar uma ótima viagem!
Abraços,
Audy
Já viajei sozinha para o Chile e foi maravilhoso, agora não deixo de viajar por não ter companhia, minha dificuldade para viajar é que não falo outra lingua a não ser o portugues, mas assim que aprender o ingles quero ir sozinha para a India.
ResponderExcluirAbraços
Raquel
no smarthphone vc pode baixar o app do google tradutor, vc fala e ele traduz na lingua escolhida por vc, e não precisa de wi-fi excelente
Excluire eu sempre viajei por conta propria sem precisar falar lingua algma exceto portugues, mesmo antes desse aplicativo
Audmara, Na verdade não gosto de viajar totalmente sozinha. Mas com excursão nem em sonho. Li seu roteiro. mas acho que o assunto é tão extenso que dá um livro. Meus próximos destinos são Japão e China. No Japão tenho certeza de que nos sairemos bem. Na China eu me preocupo um pouco com a língua e seus hieroglifos. Principalmente no momento de pegar um trem, comprar tickets. A China ainda não está mapeada pelo Google maps e isso dificulta um pouco. Normalmente quando vou a uma cidade já conheço boa parte dela pelo street view. Parabéns pelo seu blog. Barbara Mazega - SP São Paulo
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