quarta-feira, 27 de abril de 2011

Treze Tílias - um pedacinho da Áustria em Santa Catarina

 
Chegando em Treze Tílias
 Para mim uma das cidades mais lindas de Santa Catarina é Treze Tílias. Os primeiros imigrantes da região do Tirol, chegaram 1933 e mantiveram a sua cultura. A tradição está na arquitetura alpina das casas, nos jardins floridos e bem cuidados, na comida típica servida nos restaurantes, na arte de esculpir, nos grupos de dança, nas bandas folclóricas e nos festivais que animam a cidade.
Prédio da Prefeitura de Treze Tílias
Almoçando no Restaurante Kandlerhof, que tem um maravilhoso Buffet de comida típica austríaca, tive a  felicidade de conhecer a Sra. Sofie Kandler, austríaca que chegou ao Brasil com 9 anos de idade, em 1934, num dos primeiros navios que trouxe inúmeras famílias de imigrantes fugindo da recessão que assolava a Europa.   
Sofie Kandler & Audmara Veronese
Conhecer a história de Treze Tílias contada por quem chegou na região quando não havia nada além de mato e macacos assustados é um privilégio enorme. O fundador de Treze Tílias, o então ministro da agricultura da Áustria, Andreas Thaler, veio ao Brasil três vezes procurando terras para iniciar um vilarejo. Um dos critérios por ele adotado para escolher o lugar foi saber se havia túmulos de crianças no local ou próximo. Caso a mortalidade infantil fosse elevada, a região não seria propícia para começar uma nova vida. O oeste de Santa Catarina, com relevo e temperaturas que se assemelham ao estado tirolês foi  o lugar eleito por Thaler. A Sra. Sofie me contou que em Insbruck foram colocados cartazes fazendo propaganda sobre o Brasil para que as famílias se interessassem em mudar de continente. No primeiro navio vieram 84 homens com o então ministro Andreas Thaler. Neste grupo veio também um padre católico. Nos outros navios vieram famílias inteiras  como os Kandlers, que passaram 21 dias viajando pelos mares até chegar no Porto de Rio Grande. Lá pegaram um trem numa viagem que durou 4 dias até Barra de São Bento (hoje Ibicaré), e depois mais 6 horas andando até chegar em Papuan, primeiro nome de Treze Tílias.  
Pioneiras de Treze Tílias, Sofie Kandler e Irene Baingo
A Sra. Sofie relembra que no navio vieram também quatro freiras as quais ela me mostra nas fotos de um livro escrito em alemão sobre a história dos imigrantes e a fundação de Treze Tílias. Vejo a foto do padre usando batina que era confeccionada pelo pai da Sra. Sofie, o alfaiate que fazia todas as roupas das pessoas da comunidade. Há uma foto com todos os imigrantes juntos na chegada, sorridente a  Sra. Sofia  aponta para uma menininha de chapéu branco na foto e me diz: esta sou eu.
A Sra.Irene Baingo, que também estava conosco, me conta que a mãe dela veio da Áustria grávida e ela foi a primeira criança a nascer em Treze Tilias.
A Sra. Sofie eu e a Sra.Irene
Pergunto para elas como foram alfabetizadas e elas me contam que era o Padre quem lecionada. As pessoas da comunidade haviam se reunido e construído uma casa para ele e também a Igreja. Ao lado da igreja foi construída a escola, as aulas eram em alemão e como não havia cadernos elas escreviam com uma pedra na lousa que tinha vindo da Áustria. As duas relembraram com gargalhadas quando não faziam a lição e diziam para o Padre que tudo havia sido apagado da lousa. Anos mais tarde vieram os cadernos da Áustria assim como as lapiseiras e as borrachas.
Durante a Guerra todos foram proibidos de falar alemão. A Sra. Sofie me conta que para não serem presos quando eles iam comprar alguma coisa levavam uma amostra do que queriam adquirir para mostrar no comércio. Ninguém sabia falar Português e todos tinham medo dos oficiais. Havia muitos soldados na região que vigiavam não só os austríacos, mas também os italianos e alemães que já viviam nestas terras quando os tiroleses chegaram.   
Restaurante Kandlerhof
Quero saber mais sobre o ministro Andreas Thaler e seus feitos na comunidade. Neste momento percebo uma certa tristeza na voz da Sra.Sofie que me diz que ele faleceu dois anos após ter fundado Treze Tílias. Foi uma morte trágica e heróica como toda a sua vida. Os homens da comunidade estavam construindo uma ponte e, numa noite de muita chuva  o Padre tocou o sino da Igreja por volta de meia noite para que todos acordassem e ajudassem a impedir que os alicerces da ponte fossem levados pela correnteza e troncos das árvores. O ministro Andreas Thaler foi atingido por um destes troncos na cabeça e seu corpo só foi encontrado três dias mais tarde. Sua esposa ficou viúva e teve que criar sozinha os onze filhos do casal.
A Sra. Sofie e eu com o livro de fotografias
A cada página do livro folheada pela Sra.Sofie ouço mais e mais sobre pessoas que bravamente deixaram o seu legado em Treze Tílias.  Pergunto como ela se sente olhando para aquelas fotos e me contando a sua história. Ela sorri para mim e fala: isso tudo já faz tanto tempo... Talvez eu estivesse mais emocionada do que ela com tudo o que via e ouvia. 
Chegou a hora de eu me despedir da Sra. Sofie. A minha vontade era de continuar conversando com esta austríaca querida que tanto me ensinou nas poucas horas que passamos juntas. 

4 comentários:

  1. adorei, Audy! quero conhecer esse pedacinho da Austria aqui tão perto! bjo!

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  2. Muito interessante a matéria sobre a cidade de Treze Tílias. Porém, a cidade que se auto define como o Tirol Brasileiro, vem perdendo às suas característícas austríacas e turísticas diariamente. Vindo a se transformar em um futuro próximo em uma cidade dormitório rodeada de indústrias, sejam elas da área química, da área de ração animal, modificando o ar, a cultura da cidade, enfim, uma cidade outrora turística e rural, para uma cidade urbana e industrializada. Haja vista, recentemente uma pousada e um hotel já fecharam suas portas em Treze Tílias. Um imóvel no centro da cidade, verdadeira relíquia histórica, patrimônio cultural não só da cidade como do Estado Catarinense, o prédio onde se instalava o antigo Hotel Áustria, os novos proprietários já receberam autorização das mãos da Prefeitura de Treze Tílias, para demolí-lo. Nas mãos da atual Administração Municipal, vai desaparecendo aos poucos, à cultura e a história dos imigrantes que colonizaram essa terra

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  3. Lindo Perfeito o Restaurante Kandlerhof é uma beleza... A comida é uma maravilha... já fui várias vezes até lá... Somos amigos do irmão do Dono que consecutivamente também veio da Austria... tratar os peixes... ficar no quiosque no meio do açude, avistar as capivaras, os avestruzes... passáros, ovelhas... Tudo isso é maravilhoso... e as torres de chopp então ? Uma maravilha quem tem o prazer de visitar sempre quer voltar! Beijão

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  4. Olá,

    Muito obrigada pelo seu comentário. Sem dúvida almoçar no Restaurante Kandlerhof é uma experiência ímpar. Faz com que o visitante sinta-se um pouco mais perto da Áustria.
    Abraços,
    Audy

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