segunda-feira, 21 de março de 2011

Miss Shanghai

The Bund - Xangai
Estive em Xangai pela primeira vez no início de junho de 2010. Vim para cá especialmente para visitar a Expo Shanghai 2010,“Better city, better life” e ver a minha foto premiada exposta no estande de São Paulo.
Para mim era mais do que uma viagem para o Oriente, era aquele momento mágico de ir ver a minha foto selecionada para a maior exposição do mundo. É claro que eu tinha ficado contente com a exposição organizada pelo SENAC em 2008, quando foram expostas as fotos premiadas no III Concurso de Fotografia Árvores da Cidade de São Paulo e, também, por esta mesma foto ter sido exposta durante um ano na Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo. Para a minha alegria esta foto também foi escolhida para fazer parte da Expo Shanghai 2010.
Lembro-me que cheguei aqui  voando São Paulo-Dubai-Xangai. No total foram 24 horas de vôo e mais o tempo que fiquei no Aeroporto de Dubai aguardando a minha conexão totalizou quase 30 horas de viagem até eu chegar em Xangai num final de tarde.
Apesar do cansaço a alegria era tanta que mal podia esperar para ir na Expo no dia seguinte e ver a minha foto exposta. Eu tinha vindo sozinha para a China, não conhecia ninguém aqui e a primeira vez no Oriente é sempre muito marcante. As dificuldades para se comunicar, o fuso horário que é 11 horas a mais do que no Brasil que faz a gente literalmente inverter o dia pela noite, os hábitos das pessoas, a comida tão distinta e aromática, a presença do exército nas ruas, no metrô de um país comunistas onde há muitos “ é proibido” é surpreendente para o visitante.
A China passou 10 anos se preparando para organizar a Expo Shanghai 2010 para transformá-la em um dos maiores espetáculos que o país iria mostrar ao mundo após as Olimpíadas de Pequim de 2008. A área destinada à exposição, mais de 5 km quadrados foi toda desapropriada ao longo do Rio Pudong.  Pela primeira vez na história da Exposição Universal houve 246 países participantes. O governo chinês financiou inclusive um pavilhão para abrigar todos os países da África que não tinham condições de bancar os custos dos seus estandes durante os 6 meses de exposição. Esta era a grande oportunidade de trazer um pouco de cada país do globo para a China e também mostrar para o mundo do que os chineses são capazes.
Na entrada da Expo era vendido um passaporte igual ao usado na China e o visitante poderia ter um visto estampado no passaporte após cada pavilhão visitado. Assim criava-se no inconsciente das pessoas a idéia de ter viajado pelo mundo todo sem ter saído da China. As pessoas ficam horas nas filas para conseguir os vistos dos pavilhões que para alguns era até mais importante do que as obras ali expostas. Havia pessoas que  vendiam o passaporte com os vistos para os parentes que não teriam a chance de visitar a Expo.
Durante os seis meses da Expo passaram por lá mais de 73 milhões de visitantes e nos palcos da Expo aconteceram mais de 22.900 eventos. Na cidade de Xangai entre os seguranças nas ruas, voluntários trabalhando em vários pontos da cidade e na Expo eram mais de 2 milhões de pessoas envolvidas. Toda a cidade estava vestida com o mascote da Expo, os jardins floridos e tudo perfeitamente pintado e arrumado para receber os visitantes do mundo inteiro. Em todas as estações de metro havia um guichê  com pelo menos 5 ou 6 estudantes uniformizados com as cores e logo da Expo para dar informações. Eles tinham computadores em mandarim e inglês e não mediam esforços para ajudar a responder qualquer pergunta mesmo quando o inglês deles era tão básico que praticamente não havia comunicação.
Porém, nunca vou me esquecer da alegria que estes chineses que me receberam em todos os lugares, como seu fosse uma grande amiga que há muito eles não encontravam. Com todos os estrangeiros que conversei na Expo a opinião era a mesma sobre a simpatia e braços abertos que os chineses recebiam os estrangeiros. Nos pavilhões da Expo esse carisma se misturava com a curiosidade das pessoas que nunca tinham encontrado com um Ocidental na sua vida. Eu era abordada inúmeras vezes por dia porque alguém queria tirar uma foto comigo. Às vezes a pessoa fazia um sinal com a câmara na mão e o outro já corria para ficar ao meu lado, pronto para ser fotografado. Outras vezes eu estava  olhando alguma coisa e alguém simplesmente parava ao meu lado como se eu fosse uma estátua ou parte da exposição e o outro fotografava. Eram pelo menos umas 200 fotos por dia. Eu não me importava, adorava os meus momentos de celebridade e abraçava as pessoas que queriam uma foto comigo, pegava criança no colo feito político em época de eleição e tudo mais o que tinha direito.
 Houve uma ocasião em que uma mulher de um grupo se aproximou de mim para tirar uma foto comigo. Eu a abracei e fiz aquele sinal de paz e amor que os chineses adoram e fazem em todas as fotos que eles tiram. Nunca pensei que o gesto pudesse causar tanto alvoroço, a mulher ficou tão feliz que chamou as outras pessoas que estavam com ela e, para a minha sorte, devia ter uns 30 chineses naquele grupo, cada um com a sua máquina fotográfica querendo tirar uma foto comigo. Eu me divertia mais do que eles, e, pacientemente fiquei fazendo pose com os dedos esticados desejando Paz e Amor para o mundo e para que cada um tivesse a sua foto ao meu lado. O mais engraçado é que enquanto eu fazia o papel de “obra-de-arte” viva da Expo outras pessoas que passavam pelo local também começaram a fotografar a cena. Devo ter ficado mais de 15 minutos naquela condição de assédio popular e muitos flashes. Fiquei pensando o que significava para aquelas pessoas tirarem uma foto comigo, para o que aquilo iria servir. Bem, a  única possível conclusão que cheguei é que para eles que vivem num país comunista e não têm a chance de conviver com estrangeiros com frequência, precisavam necessariamente registrar aquele momento para depois mostrar para os amigos. É a mesma coisa quando nós vamos ao Zoológico e queremos tirar uma foto junto com o bichinho exótico que não conhecíamos ou só tínhamos visto nos livros.
Eu gostava de ver a reação das crianças pequenas quando me viam pela primeira vez. Algumas abriam bem os olhinhos e com muito espanto chegavam até a sorrir, outras começavam a chorar desesperadamente, provavelmente de medo do ser tão estranho que estava na frente delas. Fotografei várias destas crianças que os pais se sentiam honrados e muitos felizes todas as vezes que eu pedia permissão para fotografar os seus pimpolhos. Este pedido para fotografar era feito através da mímica, que sempre dava certo depois de algumas tentativas.
Visitei várias vezes a Expo durante os 15 dias que passei em Xangai no ano passado e mesmo assim não consegui conhecer nem 10% da gigantesca exposição, a maior de todas desde o século 17 quando a Exposição Universal teve o seu início. Aliás, a Torre Eiffel em Paris foi construída especialmente para celebrar a Exposição Universal  e deveria ter sido demolida em seguida, mas foi mantida como um marco da Exposição e se tornou o símbolo não só de Paris mas também da França.
Para mim, sem dúvida, o dia mais importante da Expo foi quando entrei pela primeira vez no estande de São Paulo, estava tocando Sampa na voz do Caetano Veloso e comecei a procurar pela minha foto no meio de tantas outras... O estande era uma réplica do Edifício Copan, criação genial do arquiteto Oscar Niemayer , e havia uma foto ou informações sobre São Paulo em cada uma das janelas que representavam os apartamentos do Copan. Enquanto eu andava pelo estande sentia o coração apertado, uma deliciosa sensação de que havia chegado até a China, estava em Xangai e prestes a ver a foto que eu tirei na maior Exposição do mundo.  A minha obra-de-arte estava exposta no alto, no segundo andar, próxima ao painel com as fotos dos artistas brasileiros famosos. Quando a vi comecei a chorar... Era um choro de alegria e satisfação, aquele choro silencioso que vem sempre acompanhado de um sorriso. Acho que era um choro parecido com o de agora... são apenas algumas lágrimas que escorrem pelo meu rosto enquanto escrevo este texto dentro do trem indo de Xangai para Pequim.
 A lembrança e a emoção daquele momento vão estar sempre comigo assim como o meu carinho por Xangai.
Fiquei muito tempo  no estande observando as pessoas que o visitavam. Falei para os voluntários que estavam trabalhando lá que eu tinha feito aquela foto e em segundos virei celebridade. Não só fui fotografada mas também dei entrevistas e conversei com várias pessoas sobre a foto.
Sem dúvida tinha valido todo o esforço para chegar até aqui.  
Desta vez encontrei uma Xangai no final do inverno, cinza, chovendo, e ainda com alguns logos da Expo Shanghai espalhados pela cidade e pelo Aeroporto. Na Najing Road a principal rua de comércio de Xangai continua aberta uma loja que só vende produtos licenciados da Expo.
Posso dizer que depois da Expo durante o dia se vê uma outra Xangai, mas a noite continua sendo a Miss Shanghai, linda e colorida com todas as suas luzes nos prédios e barcos do The Bund.
Quando chegar ao Brasil vou incluir as fotos da Expo.     
                              

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