sábado, 19 de março de 2011

Voando de balão pelo deserto


(Texto escrito no Aeroporto de Dubai, 16 de março de 2011 e publicado em Xangai)

   
Madrugada do dia 15 de março de 2011. Aguardo ansiosa o guia que virá me apanhar no Hotel para irmos para o deserto e voar no maior balão do mundo. Aliás, como quase tudo aqui em Dubai , é o maior ou o mais caro do mundo. Existe um fascínio gigantesco para liderar o livro dos recordes como se em qualquer outro lugar do planeta alguém estivesse interessado nesta competição.     Pontualmente às 4:00 horas da manhã entra no lobby do Hotel um homem alto, loiro, usando um macacão  vermelho com vários distintivos de associações de balão procurando pela Miss Veronese. Fui logo me apresentando e ele me disse que chamava Átila, era húngaro e trabalhava como  Piloto de Balão há mais de 20 anos. Na Van já havia alguns passageiros de várias nacionalidades como uma senhora e seu filho da Colômbia, um Indiano, casais da França,   Áustria, Polônia, Finlândia, uma moça simpática da Jordânia que mora em Dubai e estava fazendo aniversário. Ela tinha decidido se dar de presente o passeio de balão e estava sozinha  porque seus amigos não acharam a idéia interessante. Também havia outras pessoas que não falavam inglês e não tenho a menor idéia da nacionalidade delas.
Viajamos uma hora pela mesma rodovia que dá acesso a Abu Dhabi. Em um determinado momento saímos da rodovia e entramos no deserto. O motorista precisa dirigir em alta velocidade para que a Van não atole na areia e o que não falta são solavancos. O dia já estava amanhecendo quando chegamos num local no meio do deserto que seria o nosso ponto de partida para o passeio.  O Átila foi verificar as condições do vento em um equipamento que parece uma torre e fornece todas as informações climáticas para que seja autorizada ou não  a decolagem do balão. Enquanto isso nós olhávamos fascinados aquele balão gigante espalhado pela areia esperando para ser enchido a qualquer momento. Em segundos o nosso piloto nos fala que o vôo será cancelado porque estava ventando muito e por  questão de segurança o balão não poderia levantar vôo.
Desolados voltamos todos para a Van. O Átila nos pergunta quem poderá remarcar o passeio para o dia seguinte. Algumas pessoas lamentam porque irão voltar para os seus países e não terão a chance de voar. Outros comentavam que aquela era a segunda vez que tentavam voar... Enfim, cada um com a sua frustração ia confirmando ou não o passeio para o dia seguinte.  Remarquei  o vôo e já comecei a torcer para dar tudo certo, pois seria o meu último dia em Dubai antes de embarcar para a China.
 
Era madrugada do dia 16 de março de 2011 quando desci para a recepção do Hotel tendo dormido apenas 2 horas. O jantar com o Henk e a Sonya tinha acabado muito tarde. Como no dia anterior, pontualmente às 4:00horas  da matina entrou no hall do Hotel um homem vestido com um macacão vermelho e logotipos de balão. Desta vez era o Peter Kroll, também húngaro, piloto de balão há mais de duas décadas na Europa e o dono da empresa Balloon Adventure.
Extremamente bem humorado o Peter foi logo falando que ele      “sentia no ar” que hoje iríamos voar! Seguimos viagem com muita expectativa até chegarmos ao deserto para ver se seria possível o nosso vôo. Tudo dependia das  informações contidas naquela tal de “ torre de controle” no meio do areião sem fim. O Peter, muito sorridente, nos disse que a velocidade do vento permitia o vôo e, portanto, em alguns minutos iríamos sobrevoar o deserto de balão. Ufa! Que sorte! Tinha dado certo!

Várias pessoas da equipe se revezavam nos preparativos para encher o balão enquanto o Peter nos dava instruções e pedia para colocarmos os cintos de segurança. O balão, bastante colorido e gigantesco, começou a ser enchido com uma espécie de ventilador e só quando estava quase todo cheio é que foi injetado um gás que mais parecia uma chama entrando no balão.
 
Em alguns minutos estávamos todos à bordo e lá fomos nós subindo pelos ares secos dos Emirados Árabes e nos distanciando das areias amareladas do deserto.
 O balão subia lentamente, docemente como se acariciasse o ar em direção ao céu. Uma sensação deliciosa, com muito silêncio, paz e beleza que somente era interrompida pelo Peter fazendo contato pelo rádio para avisar a torre de controle  sobre a nossa posição. Onde estávamos não era rota de avião, mas era preciso comunicar os controladores. Subimos a uma altura de 2.000 metros e o vento nos levava suavemente ao encontro do nascer do sol. Aos poucos o sol ia surgindo no meio de algumas poucas nuvens brancas que nos permitiam ver ao longe as montanhas rochosas de Omã que eu tanto queria visitar.

Que imagem linda é o nascer do sol visto do alto de um balão no meio do deserto. Vou guardar este momento com carinho na minha memória uma vez que nenhuma  foto que tirei consegue traduzir a grandiosidade deste espetáculo da natureza que dura apenas alguns segundos.

Éramos 23 passageiros na cesta do balão e para que todos desfrutassem da magnífica vista, o Peter fazia o balão girar 360 graus. E assim, lá nas alturas, o sol nascia especialmente para cada um de nós. 
Passados alguns minutos o Peter nos trás de volta a realidade com sua voz firme e alegre e nos convida a olhar para frente enquanto ele puxa no ar umas cordinhas meio desajeitadas. De repente surge uma máquina fotográfica suspensa contra o sol. Não poderíamos ficar sem esta foto!
  A descida do balão é tão lenta e delicada quanto a subida.
O difícil foi encontrar um lugar plano no deserto para que pudéssemos pousar. O Peter fez muitas tentativas, mas o vento nos levantava ou o terreno era irregular e não permitia o pouso. Depois de uns 15 minutos, finalmente ele conseguiu um lugar seguro para o pouso. Os homens saíram do balão para ajudar a segurar a cesta enquanto nós mulheres nos juntamos no centro para manter o equilíbrio do balão com o nosso peso.
Assim que desembarcamos da cesta ficamos aguardando os carros 4 x 4 que viriam nos buscar. O Peter avisou pelo rádio a nossa posição e não demorou muito para chegar uma pick-up com uma espécie de reboque e algumas pessoas que iriam dobrar e carregar o balão. Eles trouxeram sucos e refrigerantes para nós. Enquanto isso o Peter arrumou uma mesinha com cadeira e tudo para quem quisesse comprar a foto que foi tirada lá no alto. A foto custava cerca de R$75,00 e seria enviada pelo correio para cada pessoa. O mais extraordinário foi ele começar a receber o pagamento no meio do deserto, com uma máquina de cartão de crédito que funcionava via satélite conectada a um celular. A máquina não recusou nenhum cartão de crédito e tinha gente de todos os continentes. Incrível! Pagamos pela foto que, mesmo sendo bastante cara, todo mundo comprou uma, inclusive eu. Afinal, ninguém queria ficar sem a recordação daquele momento tão bonito.  

Estávamos todos cansados e sonolentos, mas muito felizes. O Peter, sempre alegre e divertido, nos entregou o Certificado de termos Voado de Balão no deserto dos Emirados Árabes.            
No Certificado há a oração do balonista que foi escrita por um Irlandês no século 19.
" Que o vento te receba com a sua leveza
Que o sol te abençoe com a sua mão calorosa
Que você voe muito alto

E que Deus se junte a ti sorrindo
E te traga de volta, suavemente,

Para os braços da mãe terra."







 


2 comentários:

  1. Adorei a descrição do teu vôo. Procurava pela oração, e procurei muito! Tudo de bom pra vc! Desde sempre curto o Festival de Balonismo em Torres,RS,Brasil. Quando minhas filhas eram pequenas, muito corri pelas estradas afora atráz delas perseguindo os balões. Somos todas fãs!

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    1. Olá,

      Muito obrigada pelo seu gentil comentário. Fiquei pensando em você, mesmo sem conhecê-la,e nas suas filhas correndo tentando seguir os balões. Deveria escrever a respeito, imagino que tenha muitas lembranças bonitas para dividir com outras pessoas.
      Abraços,
      Audy

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